Velhos precoces
Vá se acostumando a ver crianças hipertensas, com diabetes ou cirrose. o sedentarismo e o excesso de alimentos industrializados vêm gerando uma velhice bem antes do tempo
por Sergio Bontempi Lanzotti É o caso do reumatismo, surgido do esforço dos jovens que fazem movimentos repetidos para jogar com seus videogames. Os consultórios médicos já começam a receber crianças de menos de 8 anos com danos nas mãos e nos braços similares aos que levam um trabalhador adulto a ser considerado inapto para o trabalho, tamanhos os problemas na musculatura e nas articulações que surgem.
Outro problema grave é a obesidade. Cerca de 33% das crianças brasileiras estão acima do peso. Isso faria um sucesso enorme há alguns anos, quando travávamos a luta contra a desnutrição infantil. Hoje o desafio é oposto. Crianças obesas estão expostas aos riscos das complicações da obesidade, como as doenças cardiovasculares e o diabetes, em especial o tipo 2, que sempre foi doença de adulto de mais de 40 anos. Mas temos visto, nos consultórios, pais sem histórico da doença inconformados com o diagnóstico de seus filhos. É que muitas crianças são sedentárias e consomem alimentos industrializados demais, sempre ricos em gordura, sal e carboidratos. Mais que isso, várias delas foram expostas, enquanto ainda estavam na barriga de suas mães, aos excessos desse tipo de comida e passaram a produzir insulina para se adaptar ao volume de carboidratos trazidos pelo sangue materno.
E ainda nem falamos da cirrose. O chamado fígado gorduroso já atende pelo maior contingente de pessoas com cirrose hepática no mundo. No caso das crianças, a principal fonte deste problema é o açúcar que vem dos refrigerantes, por exemplo — o mesmo que ajuda a causar diabetes.
A indústria tem responsabilidade neste quadro, já que muitos alimentos têm quantidades gigantescas de açúcar e gordura. Mas são os pais que precisam ficar atentos à alimentação e hábitos de seus filhos. No passado, a família foi fundamental para a prevenção de doenças infecciosas e parasitárias. Agora, precisa atuar novamente. Se a era das doenças crônicas graves chegar para ficar, é possível que os adultos do futuro não vejam graça em viver mais.
* Sérgio Bontempi Lanzotti é reumatologista e diretor do Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares (Iredo), em São Paulo.
FONTE: REVISTA GALILEU
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