quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Coordenadora do CAM fala sobre Câncer do Útero ao Jornal do Commercio - Confira!

Jornal do Commercio, 20 de setembro de 2011

CÂNCER DO ÚTERO

Pesquisas desvendam as faces do HPV
A terceira matéria da série sobre câncer de colo do útero em Pernambuco, iniciada no último domingo, aborda estudos sobre o papilomavírus humano realizadas em diferentes instituições do Estado. As pesquisas indicam os tipos mais frequentes de vírus e confirmam a vulnerabilidade das mulheres com aids ou soropositivas. Outra novidade é o progressivo aumento de câncer na mucosa anal também causado pelo HPV.
Veronica Almeida
valmeida@jc.com.br

Marina tem 32 anos, é mãe de três filhos, mora no Grande Recife e está tratando uma lesão no útero causada pelo HPV. Mas ela não quer ser fotografada nem permite que seu nome completo seja divulgado no jornal. Como a maioria das mulheres, Marina tem vergonha de assumir uma doença sexualmente transmissível. O papilomavírus humano é de causar vexame mesmo: com várias identidades, multiplica-se facilmente na população sexualmente ativa e em proporções maiores em grupos específicos.

As vacinas contra HPV disponíveis no Brasil e ainda não liberadas para o SUS protegem contra dois tipos que podem causar câncer no colo do útero: o HPV 16 e o HPV 18. Mas dois estudos realizados recentemente em Pernambuco, por grupos diferentes de pesquisadores, encontraram parcela significativa de mulheres infectadas pelo HPV 31, outro também capaz de causar neoplasia maligna.

Embora as vacinas liberadas ofereçam imunidade cruzada, o que confere alguma proteção contra outros tipos de HPV, quem se vacinar não deve deixar de fazer o preventivo (Papanicolau) periodicamente, alertam ginecologistas. “Os produtos liberados dão proteção de 70%”, afirma a ginecologista Vilma Guimarães, do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).

Existem mais de 100 tipos de HPV. Vilma Guimarães estudou nos últimos dois anos 610 mulheres atendidas no Imip, serviço do SUS, localizado no Recife. Do universo pesquisado, pouco mais da metade (319) estava com HPV. Excluídas as que tinham o vírus da aids e os casos em que não foi possível classificar o papiloma, restaram 230. Dessas, 79,6% estavam infectadas pelo tipo 16. O segundo mais frequente foi o 31 (36,1%). Poucas (1,7%) tinham o HPV 18.

A médica explica que o vírus 16 é o mais presente na maior parte do Brasil. O 18 fica em segundo lugar no Sul, Norte e Estados do Sudeste. No Nordeste, Centro Oeste e parte do Sudeste, é o 31 o dono da posição.

Das 319 mulheres com infecção cervical por HPV, 53% apresentavam risco alto de câncer e 35% tinham múltipla infecção por papilomas. A maioria (55,2%) estava sem lesões ou com alterações benignas. Outras 22,6% tinham câncer e 16% apresentavam lesão de baixo grau. As doentes eram, em maioria, de baixa escolaridade, moravam em área urbana e tinham iniciado a vida sexual antes dos 19 anos. Não faziam exame preventivo e eram fumantes.

Outro estudo recente deteve-se a 343 mulheres com o vírus da aids. Delas, 49% tinham HPV e o tipo 31 foi o mais frequente. Nesse universo já era esperada uma maior proporção com HPV e câncer de colo do útero, em razão da imunidade fragilizada. Na população feminina em geral, estima-se que 1,4% a 25,6%, na faixa de 15 a 74 anos, tenham o papilomavírus, explica Maria Luíza Menezes, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Pernambuco e uma das autoras da pesquisa. O trabalho reuniu pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco, Fundação Oswaldo Cruz e Imip. Em uma amostra de 133 das que tinham a coinfecção foi feita a genotipagem. O HPV 31 estava presente em 23%, seguindo pelo HPV 58 (14,3%). O 16 só afetava 6%.

VACINA

A inclusão da vacina no SUS ainda é incerta. Ana Catarina Melo, coordenadora estadual do Programa de Imunização, explica que o Ministério da Saúde realiza estudos de custo e efetividade. A expectativa é que isso leve cinco anos. Na rede particular, a vacina que protege contra quatro tipos (16,18, 6 e 11) custa R$ 380. A bivalente (contra o 16 e o 18) fica em torno de R$ 200. Em qualquer um dos casos, são aplicadas três doses, com intervalos de dois e seis meses em relação à primeira injeção.

Infecção e câncer vão além do útero
A médica Maria das Graças Castor, do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), da rede SUS, concluiu pesquisa no mestrado em patologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sobre as lesões provocadas pelo HPV em mucosas do ânus e da vagina, em pacientes sem o vírus da aids. Observou que parte das que tinham lesão no colo do útero apresentava também o mesmo problema na mucosa anal, extremidade do intestino.
“O papilomavírus humano também está associado ao desenvolvimento do câncer anal e vaginal. A vagina encontra-se em estreita relação com o colo de útero, e por isso, sujeita à infecção pelo HPV. Mesmo assim, câncer nessa área é extremamente incomum, representa em torno de 1% das neoplasias malignas do trato genital feminino”, explica a ginecologista. O câncer de canal anal também pode ser considerado raro, representando na população geral em torno de 1,5% dos tumores do sistema digestivo inferior e de 2% a 4% entre os tumores colorretais, acrescenta.

Os achados do estudo surpreenderam Graça, que já vinha observando um aumento progressivo de câncer na mucosa do ânus, principalmente em mulheres. “Trabalhos científicos com foco no canal anal são poucos, inclusive quando se referem a mulheres imunocompetentes (sem do- ença imunológica)”, lembra. Daí, resolveu estudar esse grupo.

Graça avaliou 122 pacientes do HCP, sem o vírus da aids, portadoras de neoplasia intraepitelial cervical de grau 3 (NIC 3) ou vaginal de grau 2 (NIVA 2). Em 40% delas foram encontradas lesões na mucosa anal ou a presença de HPV.

Para chegar a essa conclusão, Graça, que faz colposcopia, realizou exame de anuscopia de mag-nificação (canal anal sob visão colposcópica). Além da visuali-zação do tecido, removeu material para diagnóstico histológico (biopsia) e análise molecular para o HPV.

“Isso sugere que o papilomavírus seja responsável pelas lesões pré-malignas do canal anal, cervical e vaginal possivelmente pela circulação viral nessas regiões”, explica Graça Castor. Além da proximidade entre útero, vagina e ânus, cerca de 90% das mulheres mencionaram a prática de sexo anal, sem camisinha.

Graça acredita que paciente com pré-câncer em área ginecológica deveria fazer anuscopia, para diagnóstico mais específico e tratamento completo. A prática ainda não é rotina.

Confira a matéria no Jornal do Commercio

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